mad men – 03×13 – shut the door. have a seat

Mad Men teve direito a seu próprio Ocean’s Eleven. Capitaneados por um recé-motivado Don Draper, os (alguns) publicitários da Sterling Cooper dão um pequeno golpe da PPL, compram sua alforria e vão pra vida. Juntando isso e as novidades bombásticas do lar dos Draper, temos uma cama pronta paa a quarta temporada de Mad Men ir para qualquer lugar.

É verdade que a cada season finale os fãs da série gastam os meses de espera até a próxima estreia especulando sobre quando se situará a nova temporada. Mas, além disso, agora queremos saber quando, onde, porque, quem, como… Ainda teremos Betty, diz o Matt Weiner, mas teremos como? Vimos tudo de Sal? E os publicitários que ficaram para trás? Quais serão os novos conflitos? E essa vibe revival entre Peggy e Peter? Tudo isso fica em suspenso após essa estupenda finale.

Começamos o episódio com Don recebendo as novidades sobre a venda da empresa de um despachado Conrad Hilton, que obviamente não está muito sentido porque amarrou Don no barco que afunda. Puto por ser apenas uma peça no tabuleiro, Don tem lembranças sobre seu pai, que também viveu dominado por forças maiores e não tinha independência sequer para bater o pé quando queria, muito por causa da situação de pobreza em que vivia. Só que ao contrário do pai, que vira as costas para a cooperativa agrícola, Don resolve dar uma chance às parcerias, ao trabalho em grupo.

Começa assim o Ocean’s Eleven de Mad Men, com Don tentando convencer Bert e Roger a comprarem a empresa, a se libertarem, terem independência, ação etc. Para conseguir juntar seu time ideal, Don tem que aparar arestas de relacionamentos com várias pessoas – o próprio Roger diz que ele “não é bom com relacionamentos”. O pulo do gato acontece quando ele percebe que aliando Lane todos podem ser demitidos e assim ficar livres dos contratos, começando uma nova empresa – e no processo fazendo uma rapa na Sterling Cooper.

Lane, por sua vez, percebe que ia ser usado como amortecedor pela empresa mais uma vez – e logo em seguida deixado para trás – e acaba concordando, para ser sócio na nova empreitada. Já Pete tem necessidade de que Don puxe um pouco seu saco (“eu quero ouvir dele”) e Don o faz, ainda que pelas costas se indigne com Roger porque Pete já tinha um plano de ação pronto para ser executado ao abandonar a Sterling Cooper. Eles precisam das contas de Pete – e do talento, salienta Don – e correm atrás dela. E eu simplesmente amo todas as cenas entre Pete e Trudy no episódio. Eles podem não ser o melhor casal do mundo, mas é inegável que se compreendem, têm uma sintonia como poucos e são verdadeiramente parceiros. Não é um casamento ideal, mas funciona bem.

Peggy também quer que Don tire um pouco a máscara e dá um não quando ele age arrogantemente com ela. Depois eles têm direito à sua cena warm, com Don fazendo as coisas certas e se desculpando – e Peggy e seus daddy issues! Muito da série é este relacionamento seminal entre os dois – dois estranhos no ninho, com Don se reconhecendo mais do que deveria na garota que luta para se estabelecer n’um ambiente masculino hostil e às vezes apenas sem consideração – e ver Don colocando isso em palavras é uma espécie de momento definidor, sim.

É interessante que Don gasta suas energias e finalmente faz as coisas ficarem certas com uma das mulheres que o cercam, mas seu casamento dilapidado está além do seu alcance, a esta altura. A negação, a ameaça, o rancor, nada disso coage Betty e eventualmente Don acaba aceitando que vai haver um divórcio. Betty visita um advogado com Henry Francis e descobre que não vai ser tão fácil quanto imaginava, mas parece disposta a correr atrás. E como ela entra nessa armadilha facilmente! Com Henry pedindo que ela não aceite dinheiro de Don, prometendo cuidar dela e dos filhos. O que se passa na cabeça da Betty, muitas vezes me pergunto; é evidente que ela encontrou uma espécie de segurança e o episódio sobre a morte do Kennedy (“The Grown-Ups”) foi essencial para percebermos isso, mas não foi o bastante. Faltou um pouco mais de esforço da série em nos mostrar como Betty foi de a) ter um momento de compreensão com Don para b) desistir do casamento. A sensação realmente é de que existe uma lacuna. Eventualmente, Don vai acabar cedendo, porque não há o que ser feito, e o último diálogo dos dois tem uma nota melancólica de aceitação e falha: “Espero que consiga o que sempre quis”, diz Don Draper, dolorosamente consciente de que isso não era ele.

A cena dos dois comunicando o divórcio às crianças é heartbreaking, com Sally se recusando a aceitar (é verdade que a atriz sempre vai um pouquinho too much nessas cenas de emoção, mas aqui valeu) e saindo da sala, acusando o pai de “falar as coisas por falar” e Bobby chorando e pedindo que ele não saia de casa. Betty também chora, devastada pelo fim da família, ainda que saiba que, pelo menos para ela, a situação estava insustentável.

Por fim, no final, temos as FORÇAS REUNIDAS e a série ainda se permite uma indulgência com os fãs: traz Joan de volta, para botar a casa em ordem. E que delícia de cena é Roger reclamando da caligrafia dela, como um casal de velhos, e logo em seguida uma auto-consciente Peggy se recusando a pegar café para o chefe. Eles ainda levam Harry Crane, sempre mais lento que todos, apenas porque ele era o cara da TV (até quando, meu Deus?) e ficam instalados n’um hotel, mas a felicidade no rosto de Don na cena final é patente: aquela é sua família, ali está se realizando, correndo atrás de algo que talvez um dia possa fazer com que pare de se sentir essencialmente um hobo.

Para onde vamos daqui fica difícil dizer, e eu sinceramente nem quero especular muito. A temporada foi toda maravilhosa, e até episódios que parecem para mim um pouco anticlimátios nos entregaram algo e acrescentaram camadas à história. Vimos mais de Don Draper, vimos mais de Betty, vimos mais do casamento dos dois, vimos mais de Pete e até de Roger, Joan, e isso sempre será impagável. Que venha mais Mad Men.

Autor: carol

there ain't no catcher in the rye vamo se jogar!

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